Atualizado e republicado.
No ano de 2011, pude participar da Semana de Estudos
Teológicos, patrocinada pela Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de
São Paulo, onde discutiu-se a
Conferência do Nordeste, que aconteceu em 1962 em Recife, e que teve como tema
“Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro”.
Apesar dos 50 anos
da Conferência, pude notar que pouco caminhamos em relação ao ecumenismo e,
principalmente, quanto às questões sociais, onde a igreja ainda não conseguiu
atuação que desse resposta aos problemas que assolam a sociedade brasileira,
principalmente nas camadas mais pobres da população.
Em 1962, 167
delegados de 16 diferentes denominações debateram temas alusivos às questões
sociais da época, chegando a propostas , cuja maioria não chegou a ser
implantada, até mesmo devido ao golpe de 1964.
Trazendo para hoje
essa discussão, podemos constatar que, apesar da nossa unidade em Cristo, como
igreja somos bastante desunidos, já que atualmente sequer dispomos de um fórum
adequado para discutirmos em conjunto eventuais sugestões que visassem a
evoluções sociais, ou de um contato maior com órgãos governamentais, ou, ainda,
com as mais diversas denominações, para que pudéssemos estabelecer ações
conjuntas que viessem a mudar a realidade vigente na área social brasileira.
Afinal de contas,
qual seria a missão da igreja entre os que estão fora dela? Qual seria a
responsabilidade cristã frente ao desenvolvimento econômico? E ante as questões
sócio ambientais ?
Na falta de um
organismo onde pudéssemos (igreja) discutir esses assuntos, o que nos resta é
refletir sobre o que tem acontecido no meio eclesial. Afinal, o que significa a afirmação de Jesus
quando Ele diz que veio para evangelizar os pobres?
Realmente, nos
parece que há, hoje, uma grande dificuldade no diálogo religião x sociedade, o
que tem deixado a igreja sem condições de cumprir com o seu papel nessa área.
Por outro lado, muitas vezes vemos a religião assimilando a cultura da
sociedade, considerando como naturais questões tratadas nos evangelhos como
inaceitáveis, enquanto que a igreja permanece
em uma posição estática, observando a tudo isso de ‘mãos amarradas’, sem
condições de ação devido a essa falta de união e a uma resistência de muitos ao
ecumenismo como melhor forma de discussão desses temas. Na verdade, hoje
podemos afirmar que a igreja sequer possui uma pauta social para discutir com o
governo, até por falta de uma liderança que pudesse tomar essa iniciativa.
Na vida de igreja,
aprendemos que , quando entregamos nossas vidas a Jesus, passamos a ser “santos”,
ou seja,” separados do mundo”, e muitos entendem isso como um alheamento às
questões exteriores ao âmbito da igreja local, numa posição de que não tem
responsabilidade e nem nada a fazer
pelos que não pertencem à igreja. Salvo algumas ações isoladas, não vemos uma
grande atitude interdenominacional que visasse a mudanças nesse pensamento de
‘afastamento ‘ do mundo e das suas questões que envolvem a todos nós.
Mas, não é isso que
nos ensina Jesus. Afinal, Ele nos disse que foi escolhido por Deus para “levar
boas notícias aos pobres”, para “anunciar a liberdade aos presos” , para “dar
vista aos cegos” , para “libertar os que estão sendo oprimidos” e “anunciar que
chegou o tempo em que o Senhor salvará o Seu povo” ( Lucas 4 . 18,19 NTLH).
Somos a boca e os braços de Jesus aqui nesta terra, e cabe a nós cumprir essa
missão deixada pelo Mestre.
Muitos, às vezes,
preferem espiritualizar essas palavras, afirmando que Cristo se referia ao
pecado. Porém, podemos, também – e por que não, dar sentido social a elas, até
porque o próprio Jesus dirigiu o seu ministério aos pobres e desfavorecidos da
sua época. Afinal, quem são os pobres de hoje? E os presos? Seriam apenas os
encarcerados, ou todos aqueles deserdados da ordem política e social? Quem
seriam os cegos de hoje? E os oprimidos, não seriam todos aqueles
marginalizados sociais, os que vivem excluídos da boa educação, de um sistema
que pudesse oferecer empregos e salários dignos, de um sistema de saúde que
realmente oferecesse um atendimento ideal?
Cito, aqui, as
palavras do prof. Nicanor Lopes , que disse que “quando nos deparamos com um
texto bíblico que nos atrapalha, incomoda, damos um sentido espiritual a ele e
passamos adiante.”
Não, não podemos
simplesmente passar adiante dessas questões que tanto tem nos incomodado sem,
pelo menos, discuti-las e tomarmos iniciativas que venham a promover melhorias
na qualidade de vida , cumprindo, assim, as determinações deixadas por Jesus.
Não podemos fechar nossos olhos para tudo o que nos rodeia, numa posição
egoísta e confortável , nos alienando à realidade , sob pena de estarmos
contribuindo para a miséria, a fome, a pobreza cultural, a destruição
gananciosa do meio ambiente, sob pena de irmos de encontro à Palavra de Deus da
qual, como igreja, deveríamos ser
guardiões. É tempo de agirmos !
Fernando Marin