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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Poesia: Lobo Amargurado







LOBO AMARGURADO

(Vanessa Rodrigues)

Foi fugindo do passado que tropecei em seus encantos.
A alma mais doce e pura que eu pude observar,
A ovelha mais ingênua, que clamava por ajuda,
Era um lobo disfarçado, querendo me devorar.

Foi lembrando da história que fugi do seu abraço.
Ao correr sem direção, fui perdendo os sentidos.
Descobri, não era medo, fui enfraquecendo o passo
E voltei a me encontrar em seus braços genuínos.

Foi com toda minha força, junto a todo seu descaso,
Que, sentindo sua mordida, eu lhe oferecia mais.
E sem perceber a dor do meu corpo mutilado,
Eu apenas repetia: por que somos tão iguais?

Permiti ser devorada sem qualquer objeção,
Desde que fosse poupada a razão do meu viver:
Você me teria inteira, menos o meu coração.
Mas o lobo é traiçoeiro: como pude me esquecer?

Não bastava devorar até minhas lembranças:
Engoliu meu coração junto a tudo que restou.
Por não tê-lo mastigado, entalou em sua garganta.
E morreu sufocado por aquela a quem matou.

(Vanessa Rodrigues) 

Vanessa Rodrigues é escritora, poetisa, com vários importantes prêmios recebidos, secretária da ARTPOP.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Teologia : Fé sem obras?



                         

                                                                                             Por: Fernando Marin



Uma reflexão no texto de Tiago 2, 14-26.

A preocupação de Tiago em escrever sobre esse assunto deveu-se ao fato de o cristianismo estar se tornando, para alguns (já naquela época) , um mero sentimento, apenas emoção. Isso também está ocorrendo em nossos dias: o mais importante é sentir, experimentar sensações e fazer afirmações de fé.

Tiago combate a ideia de que uma pessoa genuinamente convertida a Deus possa continuar sua vida como se nada tivesse acontecido. Ele insiste na necessidade de se viver a Palavra de Deus. E mostra, então, dois tipos de fé: uma útil e uma inútil.

Quando lemos o belo texto bíblico de Tiago capítulo 2, nos versos 14 a 26 , sem prestarmos a devida atenção a ele, podemos até mesmo entender que as boas obras são necessárias para que haja a Salvação. A falta de um cuidado na leitura dessa passagem, poderia nos levar a pensar que não bastaria apenas crer no Senhor Jesus como nosso Salvador, mas, seria necessário acrescentar a essa crença os nossos atos de bondade, de amor aos outros.

Mas, isso não é verdade.

A verdade é que as obras são a parte visível da nossa fé, ou seja, é a maneira pela qual conseguimos comprovar exteriormente a fé que sentimos no nosso interior.

As boas obras são feitas para agradar a Deus por amor e são as consequências da verdadeira fé, posta em prática.

“Verdadeira fé” . Mas, que fé é essa?

O versículo 14 tem a chave para compreendermos essa questão. Lá, Tiago nos pergunta: “Meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem fé se ela não vier acompanhada de ações?”

Tiago se refere a uma pessoa que afirma ter fé, a alguém que diz que crê, mas, nada em sua vida pode comprovar essa fé.

E então, ele pergunta: “Será que essa fé pode salvá-lo?” quer dizer, será que esse tipo de fé salva? E ele continua, citando um caso de irmãos que não tem roupas, ou o que comer e alguém diz a eles,“vão, vistam-se e comam bem” , mas, não faz absolutamente nada para que eles tenham algo para vestir e para comer.

De que adiantam essas palavras? Palavras sem ações, são inúteis! E por isso ele diz que a fé sem obras não é fé verdadeira, mas apenas palavras.

Ele não nos diz que somos salvos pela fé acrescida de obras. Não, a Bíblia nos deixa bem claro que Cristo é o nosso único e suficiente salvador.

O que Tiago está nos dizendo é que somos salvos por uma fé que resulta em boas obras. As obras não são a essência da salvação, mas são o seu fruto!

Tiago está dizendo que se você é um Cristão, então é melhor que você manifeste algum tipo de obra adequada, caso contrário, sua fé é falsa. Esta opinião é confirmada em 1 João 2:4:”Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade”.

O apóstolo Paulo nos informa que fomos criados para as boas obras (Efésios 2:10)“Pois foi Deus quem nos fez o que somos agora; em nossa união com Cristo Jesus, ele nos criou para que fizéssemos as boas obras que ele já havia preparado para nós.”

Tiago  continua afirmando que a fé verdadeira não pode ser separada das boas obras (vers. 18) , em um diálogo entre duas pessoas:  “Mostre-me que você tem fé, sem uma vida de boas obras!”

É impossível! A fé é invisível, não há como se comprovar a fé de alguém, se aquela pessoa não tiver uma vida que realmente seja fruto dessa fé.

E Tiago continua: ‘Eu, com as obras, lhe mostrarei a minha fé”!

Aqui, compreendemos bem que a fé professa por alguém, pode ser apenas palavras, se a vida dessa pessoa não for transformada, não envolver compromisso com Jesus.

Crer, até os demônios creem na existência de Deus, mas, não se sujeitam a Ele! Não há mudanças de pensamentos e nem de atitudes, portanto, não se trata de uma fé salvadora!

Quando alguém realmente crê em Jesus, isso cria um compromisso de corpo, alma e espírito, além de resultar em uma mudança de vida (2Co  5.17)   “Quem está unido com Cristo é uma nova pessoa; acabou-se o que era velho, e já chegou o que é novo.”

Então, entendemos que a fé sem obras, é apenas uma crença, uma religião e, portanto, “não vale nada” (v 20).

E, para ilustrar, Tiago nos apresenta dois personagens bíblicos conhecidos, Abraão e Raabe, como exemplos dessa fé operante.

Fala que Abraão foi justificado quando creu, quer dizer, pela fé e, mais tarde, ele demonstrou que essa fé era autêntica, quando se dispôs a sacrificar seu próprio e esperado filho Isaque, por obediência à Deus.

Por esse ato, ele deixou claro  que a sua fé não era apenas uma crença de palavras, mas, sim, de compromisso!

A fé e as obras são inseparáveis, a primeira produz a segunda e a segunda comprova a primeira. Quando Abraão ofereceu Isaque em sacrifício, foi uma demonstração prática da sua fé. Contudo, até que Abraão levantasse sua faca contra Isaque, em obediência, somente Deus conhecia a sua justiça. Ao fazer isso, Abraão demonstrou fisicamente sua confiança em Deus, tendo sido colocado em posição de comprovar a genuinidade de sua fé.

Ele foi justificado pela sua fé, mas foi chamado amigo de Deus pelas suas obras.

O segundo exemplo de Tiago, é Raabe, uma meretriz cananéia , de Jericó. Quando ela ouviu que um exército poderoso vinha sobre a cidade, e que não havia chances de vitória, ela creu em Deus, creu que o deus dos hebreus era o Deus verdadeiro, e não pensou nas consequências disso.

E comprovou essa fé quando ajudou os espias, acolhendo-os, apesar dos riscos que correria.

Tiago encerra esse assunto, dizendo que “Portanto, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem ações está morta.” (2.26)

É assim que ele resume todo o tema. Ele compara a fé ao corpo humano e, as obras, ao espírito, diz que o corpo sem o espírito, está morto .

De modo semelhante, a fé sem ações, também está morta! É ineficaz e imprestável! Não é uma fé verdadeira.

Muitos pensam que por serem bons, ajudarem os outros, contribuírem para instituições assistenciais, auxiliarem velhinhas a atravessarem a rua, dizerem a verdade, irem à igreja  todo domingo, estão salvos.

Porém, as palavras de Jesus são claras: "Nem todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor' entrará no Reino dos Céus, mas aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus" (Mt. 7, 21).

E aí, eu pergunto: será que estamos praticando a vontade de Deus, como Abraão fez, por exemplo?

Estou disposto, como Raabe, a trair o mundo inteiro , para ser leal a Cristo? 

Tanto a fé como as obras procedem de Deus. A fé é dom de Deus. Não geramos a fé, nós a recebemos Dele.

As obras que praticamos são inspiradas pelo próprio Deus, pois é ele quem opera em nós tanto o querer quanto o realizar.

Fé e obras caminham de mãos dadas. Não estão em lados opostos, mas são parceiras. Ambas têm o mesmo objetivo, glorificar a Deus pela salvação.

Somos salvos pela fé e somos salvos para as obras.

Recebemos fé e fomos preparados para as obras. Não há merecimento na fé nem nas obras. Ambas vem de Deus.

O homem deve glorificar a Deus na terra através de suas obras, obras essas que partam do seu coração, que foi preenchido de fé pelo próprio Deus!

Podendo fazer o bem ao próximo, e não o fazendo, o homem peca contra Deus e não se justifica pela fé, visto que sua é fé é morta ao não produzir os frutos esperados, afinal, ninguém pode desprezar um irmão carente e continuar afirmando ser um seguidor de Cristo.

Aquele que possui bens materiais e vê o seu irmão em necessidade, fechando-lhe o coração, como pode habitar nele o amor de Cristo? Na 1 João 3:18, lemos: “Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade”. Esta não é a fé salvadora. Tiago fala de alguém que apenas afirma ter fé, mas nada faz para a demonstrar. Ele quebra o mandamento de amar  ao próximo como a si mesmo.

Tiago nos mostra que amor implica em prestação de serviço, auxílio, ação. Não adianta dizer “que Deus o abençoe” e nada fazer para auxiliar, estando em nosso alcance fazê-lo. Ajudar os necessitados não é algo para Deus fazer. É para os próprios crentes fazerem!

Devemos procurar falar menos e agir mais.

Fernando Marin 

“A fé estéril não é a fé salvadora  . A fé não é credal, mas é a operação do Espírito de Deus, feita no homem interior , mediante o que começa a ser  efetuada a transformação do crente segundo a imagem de Cristo”
Russell Norman Champlin

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Teologia: A Igreja Primitiva






                                                                         
                                                                                               Por: Fernando Marin



É interessante ver muitos cristãos reivindicando para suas congregações status de "Igreja Primitiva". Porém, quando lemos com atenção o texto bíblico de Atos 2, versículos 42 a 47, vemos que a situação de hoje é muito diferente  daquela que havia  nos dias em que Jesus Cristo e os seus apóstolos caminhavam sobre a terra.

Aliás, passa longe disso. Pelo menos, é o que nos mostra o texto citado, que retrata de forma clara e objetiva o que era de verdade a primeira igreja cristã da história da humanidade.

Atos 2.42   E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.

Lemos que a igreja perseverava ( gr “proskartereo”) , quer dizer, estava constantemente atenta a, dava constante cuidado a algo. Perseverar é não desfalecer; mostrar-se corajoso para estar em constante prontidão para alguém, servir constantemente.

Perseveravam na doutrina (gr  “didache”). Tem o sentido de: ensino a respeito de algo; fazer uso do discurso como meio de ensinar. 

Quando a Bíblia usa este termo, obviamente quer se referir à Palavra de Deus, aos ensinamentos inspirados dos apóstolos, primeiramente transmitidos pela via oral e depois preservados no Novo Testamento. Temos várias passagens bíblicas que comprovam isso, por exemplo, na pregação de Pedro no dia de Pentecostes. Ele citou textos de Joel, Salmos e completou com o evangelho da salvação.  Foi mais do que suficiente para que quase três mil pessoas cressem e fossem salvas!

A Bíblia , em Romanos 10.17, diz claramente que "a fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus". Isso implica que na igreja de Deus não há espaço para a pregação de outra coisa que não seja a Palavra. Hoje, a defesa da tradição invadiu muitas igrejas evangélicas, que  as defendem , mesmo que muitas vezes  elas sejam anti-bíblicas, para manterem seus usos e costumes. São as famosas doutrinas de homens.   Isso não existia na igreja primitiva.

O texto diz que "perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão".

O que é comunhão? “Koinonia”. Tem o sentido de: comunidade, participação conjunta, relação. Os primeiros cristãos sentiam o desejo de conviverem em comunidades, pois se achavam como peregrinos aqui e queriam compartilhar com os demais dos seus interesses comuns.

Cristo sempre ensinou sua igreja a andar unida.

Lemos em Eclesiastes 4.9-12 "Melhor é serem dois do que um (...), se um cair, o outro levanta seu companheiro. Mas ai do que estiver só, pois, caindo, não haverá quem o levante. Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão. O cordão de três dobras não se rompe tão depressa."

Atualmente, nem sempre se vê esse tipo de comportamento na igreja, o eu, o individualismo, muitas vezes se sobrepõem ao coletivo. Isso não existia na igreja primitiva.

Perseveravam no partir do pão. O pão era um alimento muito importante, na época, e era bastante consumido  nos “ágapes” (festas de amor e de comunhão), que normalmente aconteciam aos domingos, por ocasião da Santa Ceia.

O que Cristo demonstrou como sinal de integração se perdeu no tempo. Nosso Senhor gostava de ver as pessoas se alimentando, comendo juntas, e não só de alimento perecível, mas também da Palavra, do Pão vivo que desceu do céu ("Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus." Mateus 4.4).

O partir do pão, algo tão corriqueiro na igreja de Jerusalém, nos dias de hoje perdeu parte do seu sentido, muitas vezes o que vemos são reuniões de pequenos grupos, não integrados entre si , quase que “panelinhas”, a comunhão verdadeira é algo raro de se encontrar. Ao final do culto , as pessoas se despedem e só se reencontram no domingo seguinte, uma situação bem diferente da que imperava nos primórdios da igreja.

O texto que abordamos continua, agora, no tocante à oração.  Infelizmente, até mesmo essa saudável e primordial prática cristã parece que caiu em desuso. Os cultos dedicados à oração são, em geral, os de menor participação nos dias atuais, com poucas pessoas partilhando seus pedidos e com poucas intercedendo pelos demais, num afastamento gritante do que se compreende através do texto de Atos.

Mesmo nos cultos dominicais, cada vez menos tempo é dedicado aos agradecimentos e pedidos a Deus, bem menos do que o tempo dedicado aos louvores, coreografias, teatros e demais atividades, essas, sim, estranhas à igreja primitiva.

É importante observarmos que essas práticas não eram ações esporádicas. O texto é claro em dizer que eles PERSEVERAVAM nisso tudo. E este foi sem dúvida o segredo de serem abençoados: PERSEVERAR ("Aquele que perseverar até o fim será salvo." Mateus 10.22).

Por tudo isso, o povo acabou por desenvolver um temor reverente, suas almas se encheram de espanto quando viam os prodígios ( milagres) e sinais ( milagres que transmitiam ensinamentos) que os apóstolos realizavam sob o poder do Espírito Santo.

Eles se reuniam com frequência, e “tinham tudo em comum”, através do amor de Deus que sentiam derramado em seus corações, não consideravam os bens materiais como exclusivamente seus, em caso de necessidade, esse bem era vendido e a sua renda era distribuída pelos que mais necessitavam.

Importante, também, é refletirmos sobre Atos 2.46 , onde lemos que "perseveravam unânimes TODOS OS DIAS no templo e nas suas casas”. Queremos imitar a igreja primitiva nos dias atuais, mas a grande maioria das pessoas só comparece aos cultos uma ou duas  vezes por semana , afirmando  que uma frequência maior do que essa é um exagero.

Existem agora, ainda, os chamados “desigrejados”, ou seja, milhares de cristãos que, por discordarem de muitos fatos que ocorrem nas congregações, preferem prestar seus cultos em casa, deixaram de frequentar os templos, se afastaram da comunhão por razões pessoais.

Diz ainda o texto, que o povo fazia as suas refeições diárias “ com alegria e singeleza de coração”, com a alegria da salvação influenciando todos os detalhes da vida diária, conferindo um ar de glória à todas as atividades do cotidiano.

No versículo 47, vemos que a igreja contava “com a simpatia de todo o povo”, já que essa forma alegre e confiante de vida, contagiava os demais, a ponto de muitos se converterem apenas pelo testemunho de vida daqueles cristãos.

Para eles, a vida tinha se tornado palco de louvor e gratidão a Deus, pela libertação do poder das trevas e pela possibilidade da participação no Reino .

"E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que iam sendo salvos."

Portanto, já que os cristãos primitivos perseveravam  todos os dias na doutrina, na comunhão, no partir do pão e nas orações, ou seja, a partir do momento em que a igreja vivia da maneira que agradava a Deus, Ele todos os dias acrescentava mais e mais pessoas ao grupo, abençoando e expandindo o número de salvos diariamente.

Já imaginou, todo dia Deus salvando pessoas através das nossas igrejas?

Quando agimos da forma bíblica, como foi recomendado por Jesus, Deus abençoa e opera poderosamente!

Creio que o texto bíblico de Atos 2 – 42 a 47, deveria nortear nossas atitudes cristãs no tocante ao nosso comportamento como igreja, já que ele nos revela a verdadeira vontade de Jesus em relação à sua noiva, tão maltratada, tão desfocada dos seus principais objetivos, tão usada por muitos que, por meio dela, procuram se projetar, enriquecer, enquanto observamos tantas e tantas pessoas próximas de nós que necessitam de atenção, de salvação, de cuidados que somente uma igreja comprometida com os seus fins pode oferecer.

Quando lemos essa passagem bíblica, percebemos quase que imediatamente, o quanto que a igreja de hoje se afastou da alegria, do vigor e da solidariedade que eram as suas características dos seus primeiros dias.

Será que Jesus está feliz conosco?

Fernando Marin