Por: Fernando Marin
Desde a década de 90, a região central da cidade de S.Paulo começou a se tornar palco de
um fenômeno que está se tornando nacional. Foi o início da chamada
‘cracolãndia’, onde um grupo de dependentes dessa droga assassina chamada crack
se reúne para adquirir e consumir a
droga, quase que livremente. Com o tempo, esse grupo se transformou em uma
verdadeira multidão que vaga pelas ruas sem destino, unidos apenas pelo vício
desenfreado e pela necessidade constante do consumo de mais uma ‘pedra’.
Em
pouco tempo, toda aquela região se degradou. O comércio fechou as portas,
prédios foram abandonados e depois invadidos pelos dependentes, as ruas se
tornaram território do tráfico, inviabilizando a vida normal naquela região.
A
prefeitura fez o que pôde – muito pouco – para colocar ordem na área. No ano
passado, a polícia tentou desocupar o espaço público, porém, apenas conseguiu
dispersar aquela multidão, que passou a ocupar outros espaços na cidade,
gerando descontentamento da população .
Nada
do que foi feito surtiu resultado, com exceção de uns poucos projetos,
principalmente o bancado pela igreja Batista, chamado Cristolândia, que tem
dado atendimento àqueles que o aceitam e já conseguiu êxito em retirar das
ruas muitos que viviam pelo vício.
Mas,
o que era exclusivo de S.Paulo, agora já se espalhou por outras cidades. No Rio
de Janeiro, já há áreas também tomadas pelos dependentes, que apesar de todos
os esforços do poder público ainda dominam as ruas e avenidas, colocando vidas
em risco e causando problemas à população e ao comércio em geral.
A
sociedade cobrou medidas efetivas para que se resolvesse essa verdadeira
epidemia, que ceifa vidas e destrói o futuro de jovens e crianças, porém, nada do que se faz surte algum efeito positivo. Na verdade, parece
que não há nenhum plano traçado que possa realmente vir a gerar resultados , já que não se sabe o que pode ser feito para se combater
efetivamente o tráfico e o consumo do crack, droga que vicia logo ao primeiro
uso e que destrói vidas em poucos meses.
Depois
de muita inércia e de discussões conjuntas, as autoridades resolveram pela
internação compulsória, como forma de afastar das ruas aqueles dependentes que expõem
suas vidas à risco ou que estejam procedendo de forma violenta, além das
crianças que são protegidas por legislação específica.
Me
parece que, a prioridade traçada hoje, é acabar com as ‘cracolândias’ da forma
mais simples, afastando as pessoas de lá, varrendo ‘para baixo do
tapete’ um problema de âmbito nacional e para o qual o governo se mostra
totalmente despreparado para resolver, por falta absoluta de meios para isso.
Apesar do consumo de drogas estar em permanente acréscimo, os órgãos
governamentais não estão devidamente capacitados, seja materialmente ou em
número de profissionais, para lidarem com a questão, e só agora, com a pressão
popular, estão tentando fazer algo que vise a ‘mostrar serviço’ à sociedade.
O
tratamento da dependência química é complexo, a droga deve ser combatida conjuntamente
com ações paralelas, para que produzam os efeitos desejados. Quando alguém
busca ‘conforto’ nas drogas, é porque algo vai errado em sua relação familiar,
ou social. Assim apenas afastar o dependente do uso da droga, não resolve a
questão que o levou ao vício. Terminado o tratamento de desintoxicação, o
trabalho deve ter continuidade na reinserção do dependente na vida cotidiana, para
que ele não mais necessite buscar a droga, fazendo com que que se sinta
amparado e cuidado pela família e demais entes sociais. Caso isso não venha a
acontecer, se não tiver um amparo familiar ou de alguma entidade
que o acolha, o indivíduo acabará voltando às ruas e ao uso das drogas novamente, num
círculo que nunca terminará.
Assim,
para realmente se fazer algo que venha a afastar as pessoas desse vício
nefasto, é necessário que se crie uma estrutura que possa atuar de maneira a
reinserir os egressos do tratamento na vida social, oferecendo moradia, trabalho,
estudo, uma oportunidade de futuro para que os ex-usuários se sintam amparados
pela sociedade. Há alguns exemplos positivos, como o da prefeitura de
São Bernardo do Campo, que tem tido êxito na recuperação de usuários de drogas,
através de um acolhimento e acompanhamento de reinserção social.
Na
verdade, o melhor seria a prevenção, com ações efetivas que afastassem,
principalmente os jovens, do risco do vício. Porém, nossa sociedade tem se
mostrado incompetente para evitar que o uso de drogas aconteça de forma
descontrolada, até porque vê os drogados como um estorvo, algo que incomoda,
que prejudica, e não como pessoas que estão doentes e necessitando de cuidados
para sair dessa situação.
Com
certeza, família, amigos e religião, são pontos fundamentais para afastarem
alguém das drogas . A religião, por dar
sentido a vida, cria objetivos a serem alcançados, o que estimula a autoestima
e sacraliza a nossa existência, gerando uma experiência com Deus e nos
religando com Aquele que nos criou ,nos ama e com quem nos encontraremos ao
final da atual etapa da vida.
Com certeza, uma espiritualidade que viesse do
seio das famílias, uma sociedade menos consumista e materialista, tudo isso aliado a uma ação mais eficaz da igreja, seriam
pontos importantes para afastarem as pessoas desse vício tão nefasto e
destrutivo.
Fernando Marin