A Igreja e os Jovens
Por: Fernando Marin
Um dos fatos que me impressionaram positivamente durante a recente visita do papa Francisco ao Brasil foi a mobilização da juventude católica , jovens que viajaram de diversas partes do mundo e do país para se reunirem em torno de um grande evento de cunho evangelístico e de comunhão. Uma juventude sadia, voltada para Jesus que nos deu uma verdadeira lição de amor ao próximo na maneira como recebeu os peregrinos e na forma alegre de expressarem a sua adoração na música, na dança e na palavra.
Na contra-mão disso, a cada fim de semana, a imprensa nos choca com notícias de mortos e feridos em acidentes de trânsito, muitos deles causados por jovens alcoolizados, que dirigiam carros de luxo em alta velocidade pelas ruas de nossas cidades. Há pouco tempo atrás, em Minas Gerais, um motorista ainda jovem (e bêbado), invadiu uma festa popular, causando morte e ferimentos em várias pessoas, e isso em uma cidade pequena e (antes) pacata, onde nem o hospital local estava preparado para dar um atendimento às vítimas.
Além dessas más notícias, ainda vemos brigas em casas noturnas, às vezes até com mortes, em locais onde todos deveriam estar apenas para se divertirem, sem falar dos fatos que vem acontecendo em nossos estádios de futebol, o que antes era apenas uma torcida pela vitória do seu time vem se transformando em um ódio mortal, totalmente injustificado.
A cada notícia dessas, me vem à mente a imagem de um grupo de jovens, a maioria dos doze com cerca de 20 anos, que, quando chamados a seguir o Mestre, não pensaram duas vezes, abriram mão de suas vidas, profissões, pais, lares, e saíram por aquela terra, pregando, evangelizando, acreditando em tempos melhores e de vida eterna.
Esses jovens discípulos de Jesus foram os fundadores da Igreja. Sua mensagem era de paz, de amor ao próximo, de uma vida sob a direção de Deus, de busca de uma vida de serviço e de espiritualidade.
O que mudou de lá para os dias atuais? Por que muitos jovens hoje não encontram seus lugares na igreja de Cristo? Onde a igreja tem falhado em não obter sucesso na maioria dos trabalhos que realiza com jovens? Por que hoje a bebida, o sexo, as drogas, tomam o lugar de Jesus no coração desses que, em outras épocas, foram escolhidos diretamente por Ele para segui-lo?
Há muitas perguntas para as quais não temos as respostas adequadas. Creio que, realmente, temos falhado em várias áreas. Cabe aos teólogos analisarem as tendências da sociedade e pensarem soluções que venham de encontro às demandas sociais, que venham a trazer solução aos problemas com que nos deparamos todos os dias, em todos os lugares.
Talvez, estejamos nos alheando a essa questão dos jovens, e do seu afastamento da igreja, da Palavra de Deus. Talvez, nossa mensagem esteja antiquada, e não mais surta efeito. Talvez a degradação familiar esteja causando danos irreversíveis na formação das nossas crianças. Talvez as deficiências na área da educação estejam formando cidadãos egoístas, despreparados para a vida em comum.
Vivemos a era do TER, e não do SER. Somos vítimas de um sistema educacional falho e altamente calcado no consumismo, na necessidade de sobressair, de competir para alcançar o seu espaço, onde a ética perdeu o seu valor. Em muitos estados e municípios brasileiros, as aulas de educação religiosa foram suprimidas, assim como as de Formação Cidadã.
É mais que hora de repensarmos a questão educacional no Brasil, de se valorizar mais os educadores – de todos os níveis. Valorizar não é apenas remunerar bem, mas preparar, qualificar, oferecer estrutura de trabalho adequada.
É mais que hora de se reestruturar os currículos escolares, trazendo de volta matérias importantes na formação da criança, preparando-a para a vida em sociedade.
É mais que hora de, como igreja de Cristo, adequarmos a nossa realidade aos anseios da juventude, preparando ambiente, pessoal e temáticas que colaborem para a formação religiosa e moral visando a mantermos a presença jovem no seio da igreja, preparando um trabalho de discipulado sério e que possa vir a conscientizá-los dos malefícios das drogas, lícitas ou não, e para a necessidade da participação dessa juventude na melhoria do quadro social que reina no Brasil.
É mais que hora de arregaçarmos as mangas, de trabalharmos sério e fazermos a diferença.
Fernando Marin