Creio que todos nós estamos acompanhando com pesar e
preocupação a questão que envolve judeus e palestinos, uma guerra que já causou
milhares de mortes e que não tem perspectiva de solução, já que não há acordo
entre os envolvidos.
Essa questão tem raízes históricas, que muitos não conhecem.
Por isso, transcrevo abaixo um artigo escrito pelo Pr Julio César Paiva
Gonçalves que nos ensina as raízes e causas dessa animosidade entre dois povos
irmãos.
Essa é apenas a primeira parte, as demais serão publicadas
posteriormente, à medida em que o autor as produza
Fernando Marin
OS PALESTINOS, ISRAEL E A IGREJA (1)
“Tenha cuidado para que, ao lutar contra o dragão, você não
se transforme em um dragão também”. Nietzsche
Inegavelmente, poucos povos foram tão perseguidos e
vilipendiados, ao longo dos séculos, como o povo judeu. Desde as páginas
bíblicas até a história secular atestamos o sofrimento desse povo sem pátria,
errante, peregrino em terra estranha, pelo menos até a primeira metade do
século passado. Soa-nos cruel a declaração de Mahmoud Ahmadinejad, o
ex-presidente iraniano, ao afirmar que o holocausto judeu nunca ocorreu. Todos
nos condoemos com tão triste barbárie, os campos de extermínio alemães, que
mostra o quanto o ser humano pode ser tão mau contra o seu semelhante.
Pois bem, Israel, considerado biblicamente o povo da aliança com Deus, a nação
eleita pelos céus, poderia aprender com sua própria história de dores e
agruras, de tormentos infindáveis, a não repetir as injustiças sofridas contra
um outro povo agora na sua mesma situação. Mas não é o que temos visto no
conflito existente na Faixa de Gaza. É indiscutível a superioridade bélica de
Israel em relação aos refugiados palestinos, e, mesmo sabendo dos ataques
terroristas islâmicos contra os judeus, não podemos aceitar a campanha genocida
abraçada por Benjamim Netanyahu e seus comandados políticos, ao perpetrarem um
massacre reprovável aos olhos do mundo.
Quero convidar você a entender comigo, a partir de agora, um pouco do que está
por detrás desse conflito, que é de ordem milenar. Começo hoje uma série de
reflexões acerca de tal tema, que entendo ser tremendamente polêmico, e,
portanto, discutível e sujeito às críticas mais diversas. Tentaremos caminhar por
um viés histórico e bíblico, a fim de que a nossa compreensão dos fatos seja a
mais aguçada possível.
Quando o Estado de Israel foi formado, em 1948, milhares de palestinos árabes
(muçulmanos e cristãos) foram expulsos das terras onde eles e seus ancestrais
viviam há mais de mil anos. Isto fez com que campos de refugiados palestinos
fossem formados em diferentes países do Oriente Médio e na própria Palestina.
As pessoas que neles vivem são consideradas cidadãs de segunda classe, sem
esperança e sem perspectiva de um futuro melhor. Milhares de árabes palestinos,
assim como de judeus e cristãos, já morreram como resultado das tensões
causadas por esta situação. A cada semana, mais mortos são adicionados à lista.
Tal realidade faz com que os muçulmanos em geral, mas particularmente os que
vivem no Oriente Médio e Norte da África, alimentem um forte ódio contra os
judeus e cristãos de todo o mundo. Contra os judeus até podemos entender a
razão de tal animosidade, mas por qual motivo existe a ira contra os cristãos
também? Em parte por causa das convicções e ações de cristãos evangélicos
sionistas. O que vem a ser isso? Vejamos.
O Sionismo é um movimento de ordem internacional para o retorno do povo judeu à
sua pátria e a retomada da soberania judia na Terra de Israel. Há muitos
cristãos evangélicos que aderiram à causa sionista, crendo que o cumprimento de
algumas profecias bíblicas passa pela reaquisição da chamada Terra Prometida
pelo povo judeu, que deve reocupar o território palestino em toda a sua extensão
original, tal qual nos governos de Davi e Salomão. Para tais cristãos, Deus
continua a tratar Israel como a “menina dos seus olhos”, sendo o moderno Estado
de Israel a personificação viva de algumas das promessas das Escrituras
Sagradas.
Assim, ocorre um apoio incondicional de milhões de cristãos evangélicos
ocidentais a praticamente todas as decisões e ações politicas do governo
israelense. Alguns fatos dignos de nota:
• Uma espécie de limpeza étnica de árabes palestinos (muçulmanos e cristãos) é
interpretada como se fosse a implementação da vontade de Deus e o cumprimento
de profecias.
• O muro de cerca de dez metros de altura e de quilômetros de extensão, que
separa Belém e outras cidades da Cisjordânia de Israel, e que traz
consequências politicas, econômicas e sociais irreparáveis para os árabes
palestinos (muçulmanos e cristãos), é visto como um mal irreparável.
• Cristãos sionistas de todo o mundo enviam milhões de dólares para Israel, a
fim de sustentar a criação de assentamentos considerados ilegais pelas Nações
Unidas, acirrando a violência entre árabes e judeus.
• Igrejas evangélicas no Brasil e no mundo desenvolvem liturgias com
espalhafatosos componentes do judaísmo vétero-testamentario, produzindo uma
quase idolatria aos costumes e tradições judaicos.
Como resultado de toda essa ação discriminatória, fica cada vez mais difícil um
cristão ocidental falar do amor de Jesus para os muçulmanos em todo o mundo,
visto que nossas posturas são consideradas contraditórias em relação às nossas
palavras. Novamente, digo: tenho plena ciência da dificuldade de lidar com um
assunto tão vasto e complexo, mas precisamos emitir opiniões que nos ajudem a
buscar uma via alternativa para resolução desse conflito. É necessário olhar
esse dilema por outro ponto de vista, por uma ótica não tradicionalmente
fomentadora de tantos ressentimentos e dissensões.
Nas próximas semanas estaremos ainda tratando desse tema, buscando elucidar
questões acerca das quais ouvimos, mas que nos fogem à compreensão plena.
Que
Deus nos abençoe!
Júlio Cesar Paiva Gonçalves