Polêmicas do Cotidiano II – A cultura do nu e os evangélicos
incômodos.
Por: Fernando Marin
A polêmica foi instalada em São Paulo recentemente , mais
precisamente na abertura do 35º Panorama de Arte Brasileira no MAM, onde um
coreógrafo completamente nu convidava os
presentes a interagirem com ele, tocando em seu corpo para incentivar
movimentos que se assemelhavam aos de uma escultura presente na exposição.
Setores conservadores da sociedade partiram para o ataque do
que consideram uma afronta à capacidade cultural da população, de outro lado
artistas e intelectuais saíram em defesa de uma livre expressão da arte, sem o
que chamam de censura de qualquer natureza. O povo religioso, mais notadamente
o evangélico, protestou com veemência contra aquilo que entenderam como um
ataque ao Evangelho e à moral, até porque uma mãe levou sua filha de 5 anos à
tal exposição, e a menina foi filmada sendo induzida por essa mãe a interagir
com o artista nu.
Uma polêmica das grandes, foi o assunto da semana na mesma
época em que a revista Veja publica um artigo escrito pelo jornalista J.R.Guzzo
que chama o povo evangélico de “incômodo”, um texto repleto de desinformação e
preconceito e que repercutiu por dias na mídia com respostas vindas de diversos
setores da igreja evangélica brasileira que se considerou agredida com a matéria.
Não costumo participar de debates polêmicos, mas dessa vez
não poderia deixar passar em branco dois fatos que repercutiram demais em todos
os cantos do país. Também prefiro digerir bem os acontecimentos antes de me
posicionar, com o sangue quente muitas vezes praticamos injustiças. Também
aprendi que devemos procurar conhecer os dois lados de qualquer história que
nos contem, afinal sempre há o certo e o errado. Com isso, não quero dizer que
a minha palavra é inquestionável, porém procuro me cercar de cuidados ao emitir
opinião em assuntos tão polêmicos até porque respeito e sempre respeitarei
aqueles que pensam diferentemente de mim. Quem quiser discordar, tem o direito,
não correrá o risco de ser excluído de meu rol de amigos, basta apenas que se
manifeste com respeito e educação, e saberei entender a discordância.
Quanto ao primeiro fato, o do nu, a falta de vestimenta
sempre fez parte do trabalho de muitos artistas, notadamente escultores e
pintores dos mais famosos. Obras das mais conhecidas estão descobertas de
roupas, e expostas ao público em museus famosíssimos do mundo. Creio que
aqueles que se escandalizam com esse tipo de arte devem se abster de comparecer
onde elas são expostas. No caso do MAM , foi verificado que a interação com o
artista aconteceu em um ambiente fechado e sinalizado , portanto acessível
apenas aos que realmente desejaram estar presentes. Existe muita coisa que
considero abominável acontecendo diariamente pelo mundo, em cinemas, teatros,
boates, bordéis , e eu me abstenho de comparecer. É a minha forma de demonstrar
discordância, como cidadão, como evangélico apenas frequento ambientes em que
não me sinta agredido ou incomodado com algo que fira a minha consciência.
Claro que há uma agravante séria nesse fato, uma mãe
(desavisada??) levou sua filha de 5 anos e a induziu a interagir com o tal
artista. Com certeza, essa criança não deveria estar lá, não apenas proibida
pela mãe, mas pela rede de proteção do estado, que falhou no caso. Creio que é
devida uma punição ao MAM e a essa mãe, por terem permitido a entrada da
criança nesse setor da exposição.
Sei que pastores e muitos evangélicos se posicionaram contra
essa expressão artística, entendo que
temos essa liberdade de discordar mas temos que compreender que o mundo está
repleto de atos e fatos contrários aos pregados pelo Evangelho, e não nos cabe
efetuar um patrulhamento moral da sociedade e de suas produções, não nos cabe o
julgamento do certo ou do errado praticados, não foi isso o que Jesus nos
ensinou.
Mais uma vez, recorro à Bíblia, mais precisamente ao
Evangelho de Marcos, onde no Capítulo 16, versos de 15 e 16, o próprio Mestre
nos determina: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem o evangelho a todas as
pessoas. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.”
Simples de entender, nossa missão não é policialesca, é a de
pregar o Evangelho. Como Cristo diz, quem crer estará salvo, quem não crer não
estará. A missão que nos foi imposta pelo Mestre é a de fazer seguidores, “e
ensinando-os a obedecer a tudo o que tenho ordenado a vocês.” ( Mateus 28.20).
Não é missão do evangélico condenar nada e ninguém, não é
nossa missão acusar ou julgar ninguém pelo que faz ou pensa, estamos aqui para
fazer seguidores, para espalharmos as boas novas pelo mundo, para trazermos uma
palavra de salvação para os perdidos, isso sim é o que temos a fazer, e a obra
é enorme!
Quanto ao artigo discriminatório aos evangélicos publicado
pela revista Veja, está repleto de discriminação e de desconhecimento, assim
prefiro nem comentar, para não correr o risco de praticar algum julgamento
indevido.
Fernando Marin