Moradia e Dignidade
Por: Fernando Marin
Sempre gosto de me atualizar, lendo os jornais diariamente e assistindo aos telerjornais que consigo na televisão. Uma coisa que sempre me chama a atenção são os incêndios constantes que acontecem nas comunidades carentes de São Paulo.
Lá, essas comunidades costumam ocupar terrenos planos, vazios ou abandonados, onde se constroem centenas de pequenos barracos utilizando madeira e papelão – altamente combustíveis – como materiais básicos. A energia elétrica , é obtida através de ligações clandestinas (os famosos “gatos”, que também existem em algumas residências de alto padrão), o que favorece curtos-circuitos. A água, normalmente é ‘furtada’ da rede normal, até mesmo porque, devido à irregularidade da situação das moradias, as companhias concessionárias negam-se a efetuar as ligações de forma regular.
Mas, o que sempre me pegunto é por que motivos as pessoas aceitam viver nessas moradias toscas? Sem conforto, sem privacidade, sem saneamento?
Quem conhece São Paulo – falo hoje sobre São Paulo porque é onde a maioria desses incêndios acontecem, mas as favelas estão em todos os lugares – sabe das dificuldades. Os mais pobres aceitam tal condição por não poderem adquirir regularmente suas casas, devido ao alto custo das construções. Outro fato a ser levado em consideração, são os valores elevados das tarifas do transporte coletivo na capital paulista, o que onera os trabalhadores que moram mais distantes do seu trabalho, isso sem contarmos com os tempos de deslocamento que podem chegar a mais de 4 horas diárias.
Mas, antes que o leitor pergunte o que a Teologia tem a ver com isso tudo, creio que poderíamos, sim, dar um ponto final a essa falta de dignidade, a que assistimos calados.
Interessante notar que, mesmo tendo conhecimento da falta de moradias, a maioria das prefeituras não toma nenhuma iniciativa para reverter esse quadro. A não ser, quando acontece um incêndio, por exemplo, quando aparecem por lá cadastrando os moradores que perderam as suas casas, prometendo uma solução mágica que nunca chega a ser realidade.
Por que não se constroem casas populares? Há pouco tempo atrás, assistimos a cenas de selvageria, durante a desocupação de uma grande área invadida há anos, em São José dos Campos (Pinheirinho), uma cidade altamente industrializada, rica, populosa. Apesar disso, vimos um verdadeiro ‘jogo de empurra’ entre prefeitos , governadores e presidente da República, todos afirmando ser do outro a responsabilidade.
E nada muda. Vidas se perdem, os poucos bens materiais se vão em incêndios, enchentes, desocupações, mas o quadro não muda.
Moradia trás dignidade, e dignidade é fundamental. Uma família, para atingir a felicidade, necessita de moradia, trabalho, educação, saneamento, saúde, ou seja, daquilo tudo o que os governos sempre prometem em épocas eleitorais, mas, nunca cumprem.
Moro em uma cidade de pequeno porte (120 mil habitantes), com um afortunado orçamento anual e, mesmo assim, há anos a prefeitura não constrói uma única casa popular, mesmo tendo conhecimento de uma demanda reprimida de cerca de 2000 delas.
No Brasil sempre pudemos ver, a cada novo governo , novas conquistas sociais, bolsas-família, cheques-cidadão, mas, creio que tudo isso são formas de apenas se desviar a atenção para o verdadeiro problema, ou de não querer resolvê-lo: a falta de dignidade humana.
Ninguém mora mal por querer, com certeza.
Creio que as igrejas, ONG’s, governos, deveriam estar mais atentos à essas situações diárias que maculam nosso país e, principalmente, trazem dor, sofrimento, aflição a milhões de brasileiros que não possuem um teto decente para se abrigarem.
É dever de todo cristão ou não de lutar para que haja melhoria da qualidade de vida, mesmo que seja por preocupação com um futuro melhor para a sociedade.
Afinal, o que poderemos esperar para o futuro dessas crianças que vivem nessas condições? Fora isso,não podemos esquecer que o valor da vida humana é inestimável, muitos já perderam as suas em incêndios , desabamento de encostas, enchentes e outros dramas. Até quando a inércia das autoridades vai causar mortes? Até quando a inércia do povo cristão vai deixar que pessoas morram?
Mãos à obra! Lutemos para que os mais pobres tenham a vida em abundância que Jesus prometeu! O trabalho de evangelização e de atendimento aos que precisam deveria ser prioridade em todas as igrejas, de todas as denominações. Afinal, é isso que prega o Evangelho. Foi essa a tarefa que recebemos de Jesus. É assim que demonstramos o amor que há (ou deveria )haver em nós.
Chega de conversa e vamos à luta!
Fernando Marin
Atualizado e republicado
Me lembrei que alguns anos atrás fizemos uma parceria com uma igreja batista americana, para a construção de casas populares em um projeto para "desfavelizar" uma área conhecida em nosso município, mas esbarramos nos piores interesses travestidos de burocracia, fizemos muitas ações socias, aulas, cursos, roupas, mas acabamos por desistir do projeto principal, que seria a aquisição de uma propriedade e a construção de casas populares, o pior de tudo é que na epoca, com a parceria tínhamos recursos para isso e todos estavam empolgados, mas infelizmente fomos covardes e nos deixamos levar por questões circunstancias, não lutamos como deveríamos ter lutado! Lendo este teu artigo me lembrei daquilo que jamais deveria ter me esquecido, Que Deus nos deu na época a condição mas olhamos as dificuldades e os entraves da politica local, os americanos estavam dispostos a continuar irem as todas as instancias se possível, mas nos com vergonha de nosso pais perante os estrangeiros resolvemos desistir e acabamos por finalizar todas as parcerias! Que vergonha! Lendo seu artigo me ponho aos pés de Cristo e peço perdão pela falta de visão e covardia. Que o reino de Deus comece já entre nós em todo o nosso modo de vida e não seja apenas uma esperança escatologica, comoda em um futuro distante. Obrigado por suas palavras Deus te abençoe Marin!
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ResponderExcluirRodryguez
ResponderExcluirTudo tem o seu tempo, com certeza, Deus irá providenciar as oportunidades necessárias para que haja ação.
Abraço!
Fernando Marin