Por: Fernando Marin
Desde 2011, a cada dia 11 de janeiro, muitas pessoas vão relembrar
aquela que foi considerada como a pior
tragédia que já se abateu sobre o Brasil. No meio da noite, sem aviso, uma chuva de magnitude nunca antes vista,
atingiu partes da serra fluminense. Em poucos minutos, córregos tranquilos se
transformaram em turbilhões de água, que tragavam tudo por onde passavam.
Naquela noite, as pessoas foram dormir como em todas as outras noites,
cansadas, ou fazendo planos para o dia seguinte, ninguém esperava por toda
aquela situação. E , muitas delas morreram. Foram mais de mil, se contarmos as mais
de duzentas cujos corpos nunca foram encontrados – e nem serão.
Sei que muitos podem questionar sobre o que a teologia tem a ver com
isso. Aliás, eu já me fiz várias vezes essa mesma pergunta e, por isso, essa
tentativa de se colocar em palavras o sentimento que, desde a época, me
invadiu.
Hoje, passada a fase do socorro às vítimas, começamos a perceber o
somatório de situações que levou a aquela tragédia toda. Depois de estudos,
inspeções, reuniões, a conclusão é a de que faltaram ações públicas para evitar
a morte daquelas pessoas.
Isso mesmo, a omissão do poder público, acabou por causar tantas mortes,
ferimentos, sofrimentos, perdas materiais, a simples ação de não agir, acabou
por causar tudo aquilo. Estupefatos, vimos, ainda, o afastamento dos prefeitos
de duas das cidades atingidas , afastamentos esse que se deram por má gestão
dos recursos financeiros enviados para o socorro às vítimas.
Porém, dois anos depois, quando
esperávamos que as ações propostas pelos técnicos aliados às ações físicas das
prefeituras tivessem bons resultados, vemos mais 33 mortes, dessa vez em Petrópolis, depois de uma noite
de chuva forte.
A partir desse fato, é que
podemos verificar que nada do que foi proposto foi efetivamente realizado. Sim,
é verdade, colocaram sirenes, que tocam quando há chuvas fortes, que podem
causar deslizamentos de terra, criaram rotinas para que os moradores das áreas
de risco abandonassem suas casas e se abrigassem em locais apropriados. Mas,
foi só.
Afinal de contas, o que está acontecendo com o ser humano?
Quem, como eu, conhece as regiões atingidas, sabe bem que toda essa
tragédia era anunciada há anos. Há décadas, os municípios – e o estado – vem
permitindo, ou melhor, se omitindo para proibir construções de imóveis em áreas
de risco, muitas nos morros, outras, ainda, nas beiras – ou pior – dentro da
calha dos rios que cortam a região, simplesmente ignorando todas as leis de
controle ambiental, visando apenas e tão somente a ‘simpatia’ daquelas pessoas,
simpatia essa que acaba se transformando em votos. Ou em cadáveres.
Nem só os pobres foram afligidos. No local denominado como Vale do
Cuiabá, por exemplo, diversas pousadas e hotéis de bom padrão, haras, mansões,
tudo foi tragado por um pequeno rio enfurecido pelas águas , ceifando a vida de
muitos, apenas porque alguém se omitiu e permitiu aquelas construções ali.
Isso tudo me lembra o texto bíblico de Lucas 12, onde Jesus conta a
história de um fazendeiro que teve uma abundante colheita e que, no intuito de
enriquecer ainda mais, mandou derrubar seus celeiros e construir outros maiores,
para armazenar tudo o que colhera, já que pensava em viver dos lucros daquela
grande colheita. Não, o fazendeiro não pensou em distribuir parte daqueles
alimentos todos para os pobres. Quis juntar ainda mais, sem saber que morreria
naquela mesma noite. Muitos hoje, na ânsia de enriquecer ou de levar alguma
vantagem, fecham os olhos para as leis, para tudo o que possa a vir a se
colocar no caminho da sua ambição, isso sem o menor constrangimento, sem
qualquer preocupação com as consequências dos seus atos. Nesse momento, por
exemplo, enquanto escrevo este artigo, árvores centenárias estão sendo abatidas
na amazonia, barrancos estão sendo escavados para a construção de casas, rios
estão sendo assoreados por ignorância da obrigação de se manterem as matas
ciliares, barracos estão sendo construídos em locais de risco, e por aí vai.
Onde vamos parar? Será que a vida humana perdeu totalmente o seu valor?
Será que os políticos e administradores públicos que se omitiram na tragédia da
região serrana do Rio conseguem dormir tranquilos, sem qualquer problema de
consciência? Mesmo com essas novas mortes?
Não tenho resposta para essa pergunta, mas, também me sinto um dos
culpados. Quando nós, cristãos, deixamos de cumprir com a nossa parte, pessoas
podem morrer. Quando permitimos que as leis sejam simplesmente ignoradas,
quando dizemos que não temos nada a ver com isso, quando falamos que temos de
orar pelos outros, mas não tomamos atitudes, pessoas podem morrer. Não me
refiro apenas ao caso que abordamos aqui, mas em relação a diversas áreas da
vida.
Se , na qualidade de cristãos, fizéssemos com mais empenho o trabalho
que Jesus nos designou, com certeza, o mundo seria melhor. Se gastássemos mais
nosso tempo pregando o evangelho, levando mais pessoas a Cristo, muitas mortes
poderiam ser evitadas, já que o conhecimento da Palavra traz Salvação e
transformação.
Quando preferimos descansar a trabalhar mais pelo Reino de Deus, pessoas
ficam entregues à própria sorte, sem direção, sem esperanças, sem expectativas
de uma vida melhor, deixam de conhecer a vida com abundância pregada pelo
Mestre.
Que tal uma grande mudança daqui para frente? Que tal nos determinarmos
a partir para a práxis, deixar um pouco de lado o banco da igreja e seguir para
as ruas, bairros pobres, levando conhecimento, paz, esperança? Cobrar mais dos
políticos que cumpram com as suas obrigações, fiscalizar melhor o cumprimento
das leis, seriedade na aplicação dos
recursos públicos?
Que tal salvarmos almas e vidas? Fica aí o desafio,.
Atualizado e republicado.
José,
ResponderExcluirMuito bom o seu artigo.
Mas ficamos falando reclamando e tudo continua como antes, nada foi feito. Estamos com problemas de desabrigados nas escolas, enviamos mantimentos e roupas. Será que chegam?
Temos, como vc disse,que conscientizar as pessoas para que se tornem mais humanas. Humanas? o que isso.
Vamos salvar almas e vidas.
abraços,
MªHelena
Maria Helena
ResponderExcluirCreio que o que realmente falta é falarmos menos e agirmos mais!
Obrigado pelo seu comentário.
Abraços!