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domingo, 24 de agosto de 2014

OS PALESTINOS, ISRAEL E A IGREJA (1)






  Creio que todos nós estamos acompanhando com pesar e preocupação a questão que envolve judeus e palestinos, uma guerra que já causou milhares de mortes e que não tem perspectiva de solução, já que não há acordo entre os envolvidos. 

  Essa questão tem raízes históricas, que muitos não conhecem. Por isso, transcrevo abaixo um artigo escrito pelo Pr Julio César Paiva Gonçalves que nos ensina as raízes e causas dessa animosidade entre dois povos irmãos.


  Essa é apenas a primeira parte, as demais serão publicadas posteriormente, à medida em que o autor as produza

Fernando Marin


OS PALESTINOS, ISRAEL E A IGREJA (1)



“Tenha cuidado para que, ao lutar contra o dragão, você não se transforme em um dragão também”. Nietzsche

  Inegavelmente, poucos povos foram tão perseguidos e vilipendiados, ao longo dos séculos, como o povo judeu. Desde as páginas bíblicas até a história secular atestamos o sofrimento desse povo sem pátria, errante, peregrino em terra estranha, pelo menos até a primeira metade do século passado. Soa-nos cruel a declaração de Mahmoud Ahmadinejad, o ex-presidente iraniano, ao afirmar que o holocausto judeu nunca ocorreu. Todos nos condoemos com tão triste barbárie, os campos de extermínio alemães, que mostra o quanto o ser humano pode ser tão mau contra o seu semelhante.


  Pois bem, Israel, considerado biblicamente o povo da aliança com Deus, a nação eleita pelos céus, poderia aprender com sua própria história de dores e agruras, de tormentos infindáveis, a não repetir as injustiças sofridas contra um outro povo agora na sua mesma situação. Mas não é o que temos visto no conflito existente na Faixa de Gaza. É indiscutível a superioridade bélica de Israel em relação aos refugiados palestinos, e, mesmo sabendo dos ataques terroristas islâmicos contra os judeus, não podemos aceitar a campanha genocida abraçada por Benjamim Netanyahu e seus comandados políticos, ao perpetrarem um massacre reprovável aos olhos do mundo.

  Quero convidar você a entender comigo, a partir de agora, um pouco do que está por detrás desse conflito, que é de ordem milenar. Começo hoje uma série de reflexões acerca de tal tema, que entendo ser tremendamente polêmico, e, portanto, discutível e sujeito às críticas mais diversas. Tentaremos caminhar por um viés histórico e bíblico, a fim de que a nossa compreensão dos fatos seja a mais aguçada possível.

  Quando o Estado de Israel foi formado, em 1948, milhares de palestinos árabes (muçulmanos e cristãos) foram expulsos das terras onde eles e seus ancestrais viviam há mais de mil anos. Isto fez com que campos de refugiados palestinos fossem formados em diferentes países do Oriente Médio e na própria Palestina. As pessoas que neles vivem são consideradas cidadãs de segunda classe, sem esperança e sem perspectiva de um futuro melhor. Milhares de árabes palestinos, assim como de judeus e cristãos, já morreram como resultado das tensões causadas por esta situação. A cada semana, mais mortos são adicionados à lista. 

  Tal realidade faz com que os muçulmanos em geral, mas particularmente os que vivem no Oriente Médio e Norte da África, alimentem um forte ódio contra os judeus e cristãos de todo o mundo. Contra os judeus até podemos entender a razão de tal animosidade, mas por qual motivo existe a ira contra os cristãos também? Em parte por causa das convicções e ações de cristãos evangélicos sionistas. O que vem a ser isso? Vejamos. 

  O Sionismo é um movimento de ordem internacional para o retorno do povo judeu à sua pátria e a retomada da soberania judia na Terra de Israel. Há muitos cristãos evangélicos que aderiram à causa sionista, crendo que o cumprimento de algumas profecias bíblicas passa pela reaquisição da chamada Terra Prometida pelo povo judeu, que deve reocupar o território palestino em toda a sua extensão original, tal qual nos governos de Davi e Salomão. Para tais cristãos, Deus continua a tratar Israel como a “menina dos seus olhos”, sendo o moderno Estado de Israel a personificação viva de algumas das promessas das Escrituras Sagradas.

  Assim, ocorre um apoio incondicional de milhões de cristãos evangélicos ocidentais a praticamente todas as decisões e ações politicas do governo israelense. Alguns fatos dignos de nota:

• Uma espécie de limpeza étnica de árabes palestinos (muçulmanos e cristãos) é interpretada como se fosse a implementação da vontade de Deus e o cumprimento de profecias.
• O muro de cerca de dez metros de altura e de quilômetros de extensão, que separa Belém e outras cidades da Cisjordânia de Israel, e que traz consequências politicas, econômicas e sociais irreparáveis para os árabes palestinos (muçulmanos e cristãos), é visto como um mal irreparável.
• Cristãos sionistas de todo o mundo enviam milhões de dólares para Israel, a fim de sustentar a criação de assentamentos considerados ilegais pelas Nações Unidas, acirrando a violência entre árabes e judeus.
• Igrejas evangélicas no Brasil e no mundo desenvolvem liturgias com espalhafatosos componentes do judaísmo vétero-testamentario, produzindo uma quase idolatria aos costumes e tradições judaicos.

Como resultado de toda essa ação discriminatória, fica cada vez mais difícil um cristão ocidental falar do amor de Jesus para os muçulmanos em todo o mundo, visto que nossas posturas são consideradas contraditórias em relação às nossas palavras. Novamente, digo: tenho plena ciência da dificuldade de lidar com um assunto tão vasto e complexo, mas precisamos emitir opiniões que nos ajudem a buscar uma via alternativa para resolução desse conflito. É necessário olhar esse dilema por outro ponto de vista, por uma ótica não tradicionalmente fomentadora de tantos ressentimentos e dissensões. 

  Nas próximas semanas estaremos ainda tratando desse tema, buscando elucidar questões acerca das quais ouvimos, mas que nos fogem à compreensão plena.

  Que Deus nos abençoe!

Júlio Cesar Paiva Gonçalves