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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O Tempo e a Saudade



Se há um sujeito que eu admiro é o Josias Silva. Pastor, cantor gospel, uma pessoa sensível, inteligente e que escreve com o coração.

O Tempo e a Saudade me marcaram, pelo jeito simples e principalmente pela minha identificação com o narrado. Uma história parecida com a minha, quem não sente saudades da infância, das coisas que comia e amava comer, dos lugares onde ia?

Pedi a ele autorização para compartilhar com vocês.

Leia e viage no tempo.

Fernando Marin

O Tempo e a Saudade

Por: Josias Silva

Das coisas mais tristes, e também mais lindas de se sentir – é a saudade. A saudade é algo difícil de explicar, na realidade, toda emoção é difícil de explicar; e saudade é emoção. Saudade tem a ver com a alma. É como tentar explicar a lágrima, não há explicação, por mais cientificamente que se tente explicar, não pode explicar a vontade chorar. Saudade não se explica, se sente.
Saudade é como quando a gente é pequena,  e tem vontade de comer doce, a vontade não passa enquanto não comemos. Só que quando a gente é adulto, nem sempre conseguimos comer os doces que queremos, pois, às vezes, eles nem fazem mais parte desse mundo, ai, a vontade e saudade se confundem. Rubem Alves diz no seu livro Tempus Fugit, que significa – O tempo foge: “Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será”
Às vezes sinto saudades de coisas singelas – como ver meu pai chegando às sextas-feiras do trabalho e ficar feliz porque no sábado de manhã iríamos na casa do meu tio, Zequinha; ou para algum lugar que faríamos uma parada no “rancho da pamonha”. E eu iria me deliciar com saborosas pamonhas. Saudade de quando minha mãe fazia roupas para mim e eu saía me exibindo para meus coleguinhas da escola, me sentindo muito bem vestido e feliz; mas não havia sentindo de competição ou rivalidade, era tudo muito puro.

Saudade de quando íamos à igreja e não víamos maldade nas pessoas, não percebíamos que havia ganância por posição, status, poder e exclusivismos. Não se notava tanto egoísmo e egocentrismo. Deus era a única coisa que importava, parece que havia uma comunhão intensa entre a maioria; o comum era mais importante que o individual. Tudo parecia ser muito correto e havia um grande temor da maior parte de nós com as coisas de Deus. Nesse tempo ninguém precisava de subterfúgios para ir à igreja. E não havia, tal como Nicolau Maquiavel “os fins justificam os meios” para dar resultados – Jesus era o começo o meio e o fim.

Saudade de lugares que nunca mais vi; uma nostalgia que parece nos arrebatar. Saudade de ouvir meu irmão, o Quiel (como o chamávamos), cantando Caetano Veloso, e eu ficar de olho em seus dedos para aprender tocar violão; como na música Tigresa “E eu corri pra o violão num lamento, e a manhã nasceu azul. Como é bom poder tocar um instrumento”.

 Saudade de ser inocente e achar que todo mundo era bom, e que o futuro seria sempre um amanhã muito distante, pois ainda havia muito tempo. Saudade de boas risadas com amigos que eram mais que irmãos e que nunca esquecemos.

Saudade de quando era domingo de manhã, e minha mãe fazia cuscuz pernambucano para comermos. Hmm!, valia muito a pena acordar cedo. Saudade quando chegava à época de Natal, e meu pai trazia um panetone que ficava guardado em cima da geladeira para ser servido somente no Natal. E eu não via a hora de chegar o Natal para comê-lo!

Cecilia Meireles nos da uma ideia do que é saudade no poema “Silenciosas Lembranças”
De que são feitos os dias?

– De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.

Entre mágoas sombrias,

momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inatuais esperanças.

De loucuras, de crimes,

de pecados, de glórias
– do medo que encadeia
todas essas mudanças.

Dentro deles vivemos,

dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças…


 Fernando Pessoa já diz de uma maneira mais nostálgica sobre a saudade:
Saudades! Tenho-as até do que me não foi nada, por uma angústia de fuga do tempo e uma doença do mistério da vida. Caras que via habitualmente nas minhas ruas habituais – se deixo de vê-las entristeço; e não me foram nada, a não ser o símbolo de toda a vida.

Saudade tem a ver com tempo. Saudade é a vontade de voltar a um tempo que já não existe, mas que ainda há dentro do coração. Rubem Alves diz: “A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar.” Alias o tempo é eterno, quem passa não é o tempo, somos nós. Por isso a alma eterniza a memoria do que já não há para nós, mas que, para ela (a alma) – ainda existe. A alma é nossa eterna finitude frente a infinitude de um momento. O tempo, no sentido cronológico, é criação humana. Pois o tempo em si é livre de tempo: é atemporal, é continuo, é perene – é eterno. A eternidade, sempre existiu. Na realidade, o tempo nunca houve, nem haverá, o tempo é o agora.

Depois que escrevi estas sentenças, fui ler o poeta dos poetas, T.S Eliot, e fiquei espantado com a constatação da similaridade de ideia em relação ao tempo; percebi que não estou só. Vejamos:
O tempo presente e o tempo passado. Estão ambos talvez presentes no tempo futuro. E o tempo futuro contido no tempo passado. Se todo o tempo é eternamente presente. Todo tempo é irremedivel. O que poderia ter sido é obstração Que permanece, perpétua possibilidade. Num mundo apenas de especulação. O que poderia ter sido e o que foi. Convergem para um só fim, que é sempre presente. Ecoam passos na memória. Ao longo das galerias que não percorremos. Em direção à porta que jamais abriu. Para o roseiral. Assim ecoam minhas palavras. Em tua lembrança.

Rubem Alves, parafraseando Adélia Prado, também tem alguma coisa a dizer em relação a eternidade e memoria, que poderíamos traduzir por Tempo e Saudade. Diz ele:
Aquilo que está escrito no coração não

necessita de agendas porque a gente não
esquece. O que a memória ama fica eterno.


O tempo e a saudade são amigos mais que inimigos. São instantes eternos que nos roubam a alma num sonho que sonhamos acordados e sempre existirá.
Servo de Cristo,
Josias Silva

Leiam mais outros lindos textos de Josias no blog:
https://crertambemepensar.wordpress.com/

Josias Silva

3 comentários:

  1. Obrigado pela honra de publicar texto de minha autoria, meu amigo Fernando. Gosto dos teus textos também, sempre nos levando a reflexão.

    Deus te abençoe,

    J.S.

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    Respostas
    1. Obrigado pela honra de publicar texto de minha autoria, meu amigo Fernando. Gosto dos teus textos também, sempre nos levando a reflexão.

      Deus te abençoe,

      J.S.

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    2. Josias
      O que é bom, deve ser compartilhado com todos.
      Obrigado por ter me autorizado a reproduzir.
      E obrigado por ser leitor do que ouso escrever,
      Abraço.

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