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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Teologia : Fé sem obras?



                         

                                                                                             Por: Fernando Marin



Uma reflexão no texto de Tiago 2, 14-26.

A preocupação de Tiago em escrever sobre esse assunto deveu-se ao fato de o cristianismo estar se tornando, para alguns (já naquela época) , um mero sentimento, apenas emoção. Isso também está ocorrendo em nossos dias: o mais importante é sentir, experimentar sensações e fazer afirmações de fé.

Tiago combate a ideia de que uma pessoa genuinamente convertida a Deus possa continuar sua vida como se nada tivesse acontecido. Ele insiste na necessidade de se viver a Palavra de Deus. E mostra, então, dois tipos de fé: uma útil e uma inútil.

Quando lemos o belo texto bíblico de Tiago capítulo 2, nos versos 14 a 26 , sem prestarmos a devida atenção a ele, podemos até mesmo entender que as boas obras são necessárias para que haja a Salvação. A falta de um cuidado na leitura dessa passagem, poderia nos levar a pensar que não bastaria apenas crer no Senhor Jesus como nosso Salvador, mas, seria necessário acrescentar a essa crença os nossos atos de bondade, de amor aos outros.

Mas, isso não é verdade.

A verdade é que as obras são a parte visível da nossa fé, ou seja, é a maneira pela qual conseguimos comprovar exteriormente a fé que sentimos no nosso interior.

As boas obras são feitas para agradar a Deus por amor e são as consequências da verdadeira fé, posta em prática.

“Verdadeira fé” . Mas, que fé é essa?

O versículo 14 tem a chave para compreendermos essa questão. Lá, Tiago nos pergunta: “Meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem fé se ela não vier acompanhada de ações?”

Tiago se refere a uma pessoa que afirma ter fé, a alguém que diz que crê, mas, nada em sua vida pode comprovar essa fé.

E então, ele pergunta: “Será que essa fé pode salvá-lo?” quer dizer, será que esse tipo de fé salva? E ele continua, citando um caso de irmãos que não tem roupas, ou o que comer e alguém diz a eles,“vão, vistam-se e comam bem” , mas, não faz absolutamente nada para que eles tenham algo para vestir e para comer.

De que adiantam essas palavras? Palavras sem ações, são inúteis! E por isso ele diz que a fé sem obras não é fé verdadeira, mas apenas palavras.

Ele não nos diz que somos salvos pela fé acrescida de obras. Não, a Bíblia nos deixa bem claro que Cristo é o nosso único e suficiente salvador.

O que Tiago está nos dizendo é que somos salvos por uma fé que resulta em boas obras. As obras não são a essência da salvação, mas são o seu fruto!

Tiago está dizendo que se você é um Cristão, então é melhor que você manifeste algum tipo de obra adequada, caso contrário, sua fé é falsa. Esta opinião é confirmada em 1 João 2:4:”Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade”.

O apóstolo Paulo nos informa que fomos criados para as boas obras (Efésios 2:10)“Pois foi Deus quem nos fez o que somos agora; em nossa união com Cristo Jesus, ele nos criou para que fizéssemos as boas obras que ele já havia preparado para nós.”

Tiago  continua afirmando que a fé verdadeira não pode ser separada das boas obras (vers. 18) , em um diálogo entre duas pessoas:  “Mostre-me que você tem fé, sem uma vida de boas obras!”

É impossível! A fé é invisível, não há como se comprovar a fé de alguém, se aquela pessoa não tiver uma vida que realmente seja fruto dessa fé.

E Tiago continua: ‘Eu, com as obras, lhe mostrarei a minha fé”!

Aqui, compreendemos bem que a fé professa por alguém, pode ser apenas palavras, se a vida dessa pessoa não for transformada, não envolver compromisso com Jesus.

Crer, até os demônios creem na existência de Deus, mas, não se sujeitam a Ele! Não há mudanças de pensamentos e nem de atitudes, portanto, não se trata de uma fé salvadora!

Quando alguém realmente crê em Jesus, isso cria um compromisso de corpo, alma e espírito, além de resultar em uma mudança de vida (2Co  5.17)   “Quem está unido com Cristo é uma nova pessoa; acabou-se o que era velho, e já chegou o que é novo.”

Então, entendemos que a fé sem obras, é apenas uma crença, uma religião e, portanto, “não vale nada” (v 20).

E, para ilustrar, Tiago nos apresenta dois personagens bíblicos conhecidos, Abraão e Raabe, como exemplos dessa fé operante.

Fala que Abraão foi justificado quando creu, quer dizer, pela fé e, mais tarde, ele demonstrou que essa fé era autêntica, quando se dispôs a sacrificar seu próprio e esperado filho Isaque, por obediência à Deus.

Por esse ato, ele deixou claro  que a sua fé não era apenas uma crença de palavras, mas, sim, de compromisso!

A fé e as obras são inseparáveis, a primeira produz a segunda e a segunda comprova a primeira. Quando Abraão ofereceu Isaque em sacrifício, foi uma demonstração prática da sua fé. Contudo, até que Abraão levantasse sua faca contra Isaque, em obediência, somente Deus conhecia a sua justiça. Ao fazer isso, Abraão demonstrou fisicamente sua confiança em Deus, tendo sido colocado em posição de comprovar a genuinidade de sua fé.

Ele foi justificado pela sua fé, mas foi chamado amigo de Deus pelas suas obras.

O segundo exemplo de Tiago, é Raabe, uma meretriz cananéia , de Jericó. Quando ela ouviu que um exército poderoso vinha sobre a cidade, e que não havia chances de vitória, ela creu em Deus, creu que o deus dos hebreus era o Deus verdadeiro, e não pensou nas consequências disso.

E comprovou essa fé quando ajudou os espias, acolhendo-os, apesar dos riscos que correria.

Tiago encerra esse assunto, dizendo que “Portanto, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem ações está morta.” (2.26)

É assim que ele resume todo o tema. Ele compara a fé ao corpo humano e, as obras, ao espírito, diz que o corpo sem o espírito, está morto .

De modo semelhante, a fé sem ações, também está morta! É ineficaz e imprestável! Não é uma fé verdadeira.

Muitos pensam que por serem bons, ajudarem os outros, contribuírem para instituições assistenciais, auxiliarem velhinhas a atravessarem a rua, dizerem a verdade, irem à igreja  todo domingo, estão salvos.

Porém, as palavras de Jesus são claras: "Nem todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor' entrará no Reino dos Céus, mas aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus" (Mt. 7, 21).

E aí, eu pergunto: será que estamos praticando a vontade de Deus, como Abraão fez, por exemplo?

Estou disposto, como Raabe, a trair o mundo inteiro , para ser leal a Cristo? 

Tanto a fé como as obras procedem de Deus. A fé é dom de Deus. Não geramos a fé, nós a recebemos Dele.

As obras que praticamos são inspiradas pelo próprio Deus, pois é ele quem opera em nós tanto o querer quanto o realizar.

Fé e obras caminham de mãos dadas. Não estão em lados opostos, mas são parceiras. Ambas têm o mesmo objetivo, glorificar a Deus pela salvação.

Somos salvos pela fé e somos salvos para as obras.

Recebemos fé e fomos preparados para as obras. Não há merecimento na fé nem nas obras. Ambas vem de Deus.

O homem deve glorificar a Deus na terra através de suas obras, obras essas que partam do seu coração, que foi preenchido de fé pelo próprio Deus!

Podendo fazer o bem ao próximo, e não o fazendo, o homem peca contra Deus e não se justifica pela fé, visto que sua é fé é morta ao não produzir os frutos esperados, afinal, ninguém pode desprezar um irmão carente e continuar afirmando ser um seguidor de Cristo.

Aquele que possui bens materiais e vê o seu irmão em necessidade, fechando-lhe o coração, como pode habitar nele o amor de Cristo? Na 1 João 3:18, lemos: “Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade”. Esta não é a fé salvadora. Tiago fala de alguém que apenas afirma ter fé, mas nada faz para a demonstrar. Ele quebra o mandamento de amar  ao próximo como a si mesmo.

Tiago nos mostra que amor implica em prestação de serviço, auxílio, ação. Não adianta dizer “que Deus o abençoe” e nada fazer para auxiliar, estando em nosso alcance fazê-lo. Ajudar os necessitados não é algo para Deus fazer. É para os próprios crentes fazerem!

Devemos procurar falar menos e agir mais.

Fernando Marin 

“A fé estéril não é a fé salvadora  . A fé não é credal, mas é a operação do Espírito de Deus, feita no homem interior , mediante o que começa a ser  efetuada a transformação do crente segundo a imagem de Cristo”
Russell Norman Champlin

9 comentários:

  1. A fé verdadeira é incapaz de se calar diante das injustiças sociais, é uma fé que transforma a palavra e a filosofia da religião em uma ação eficaz. Nas palavras de Jesus... tive sede, tive fome...parabéns irmão pelo texto.

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    1. Rodryguez
      Obrigado pelo seu comentário.
      Com certeza, a fé leva ao amor, e esse, às obras.
      Abraço.

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  2. " O amor nao e apenas um slogam mas uma ATITUDE" Excelente sermao, Parabens!!! Pr. Adilson Almeida

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    1. Pr Adilson

      Muito obrigado pelo seu comentário, meu irmão.

      Simplesmente, AME, não??

      Abraço.

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  3. Que categoria meu irmão, renovo minhas esperanças em ver que existem pessoas que ainda pensam assim!
    Vejo nas Igrejas um descaso e um mal uso da PALAVRA.
    Tenho e visualizo uma IGREJA que além de suas atribuições normais seja como uma COOPERATIVA,
    Fazer um cadastro de cada membro e suas capacitações...
    Não haveria nem um membro que precisasse de algo tivesse que buscar fora.
    Assim, a casa organizada e forte poderia facilmente ajudar nossos FUTUROS IRMÃOS!

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    1. Evandro.

      Uma excelente ideia ! Tentei implantar isso, uma vez, mas, não consegui.

      Assim , todos conheceriam os talentos dos outros.

      Obrigado!

      Abraço.

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  4. Excelente o seu texto, Fernando (como sempre). Parabéns, gostei muito!!!

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    1. Austri
      Sou eu quem agradece, afinal, você é o responsável por tudo isso, a partir do momento em que ofereceu o seu blog para que eu publicasse o que escrevo.
      Muito obrigado pelo seu incentivo!
      Abraço.

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  5. Excelente texto Fernando, isso prova que a fé não pode ser egoísta, mas distributiva!

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