Por: Fernando Marin
Uma reflexão no texto de Tiago
2, 14-26.
A preocupação de Tiago em
escrever sobre esse assunto deveu-se ao fato de o cristianismo estar se
tornando, para alguns (já naquela época) , um mero sentimento, apenas emoção.
Isso também está ocorrendo em nossos dias: o mais importante é sentir,
experimentar sensações e fazer afirmações de fé.
Tiago combate a ideia de
que uma pessoa genuinamente convertida a Deus possa continuar sua vida como se
nada tivesse acontecido. Ele insiste na necessidade de se viver a Palavra de
Deus. E mostra, então, dois tipos de fé: uma útil e uma inútil.
Quando lemos o belo texto
bíblico de Tiago capítulo 2, nos versos 14 a 26 , sem prestarmos a devida
atenção a ele, podemos até mesmo entender que as boas obras são necessárias
para que haja a Salvação. A falta de um cuidado na leitura dessa passagem,
poderia nos levar a pensar que não bastaria apenas crer no Senhor Jesus como
nosso Salvador, mas, seria necessário acrescentar a essa crença os nossos atos
de bondade, de amor aos outros.
Mas, isso não é verdade.
A verdade é que as obras
são a parte visível da nossa fé, ou seja, é a maneira pela qual conseguimos
comprovar exteriormente a fé que sentimos no nosso interior.
As boas obras são feitas
para agradar a Deus por amor e são as consequências da verdadeira fé, posta em
prática.
“Verdadeira fé” . Mas, que
fé é essa?
O versículo 14 tem a chave
para compreendermos essa questão. Lá, Tiago nos pergunta: “Meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem fé se ela não vier
acompanhada de ações?”
Tiago se refere a uma
pessoa que afirma ter fé, a alguém que diz que crê, mas, nada em sua vida pode
comprovar essa fé.
E então, ele pergunta: “Será que essa fé pode salvá-lo?” quer
dizer, será que esse tipo de fé salva? E ele continua, citando um caso de
irmãos que não tem roupas, ou o que comer e alguém diz a eles,“vão, vistam-se e comam bem” , mas, não
faz absolutamente nada para que eles tenham algo para vestir e para comer.
De que adiantam essas
palavras? Palavras sem ações, são inúteis! E por isso ele diz que a fé sem
obras não é fé verdadeira, mas apenas palavras.
Ele não nos diz que somos
salvos pela fé acrescida de obras. Não, a Bíblia nos deixa bem claro que Cristo
é o nosso único e suficiente salvador.
O que Tiago está nos
dizendo é que somos salvos por uma fé que resulta em boas obras. As obras não
são a essência da salvação, mas são o seu fruto!
Tiago está dizendo que se
você é um Cristão, então é melhor que você manifeste algum tipo de obra
adequada, caso contrário, sua fé é falsa. Esta opinião é confirmada em 1 João
2:4:”Aquele que diz: Eu o conheço e não
guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade”.
O apóstolo Paulo nos
informa que fomos criados para as boas obras (Efésios 2:10)“Pois foi Deus quem nos fez o que somos agora; em nossa união com
Cristo Jesus, ele nos criou para que fizéssemos as boas obras que ele já havia
preparado para nós.”
Tiago continua afirmando que a fé verdadeira não
pode ser separada das boas obras (vers. 18) , em um diálogo entre duas pessoas: “Mostre-me
que você tem fé, sem uma vida de boas obras!”
É impossível! A fé é
invisível, não há como se comprovar a fé de alguém, se aquela pessoa não tiver
uma vida que realmente seja fruto dessa fé.
E Tiago continua: ‘Eu, com as obras, lhe mostrarei a minha fé”!
Aqui, compreendemos bem
que a fé professa por alguém, pode ser apenas palavras, se a vida dessa pessoa
não for transformada, não envolver compromisso com Jesus.
Crer, até os demônios
creem na existência de Deus, mas, não se sujeitam a Ele! Não há mudanças de
pensamentos e nem de atitudes, portanto, não se trata de uma fé salvadora!
Quando alguém realmente
crê em Jesus, isso cria um compromisso de corpo, alma e espírito, além de
resultar em uma mudança de vida (2Co
5.17) “Quem está unido com Cristo é uma nova pessoa; acabou-se o que era
velho, e já chegou o que é novo.”
Então, entendemos que a fé
sem obras, é apenas uma crença, uma religião e, portanto, “não vale nada” (v 20).
E, para ilustrar, Tiago
nos apresenta dois personagens bíblicos conhecidos, Abraão e Raabe, como
exemplos dessa fé operante.
Fala que Abraão foi
justificado quando creu, quer dizer, pela fé e, mais tarde, ele demonstrou que
essa fé era autêntica, quando se dispôs a sacrificar seu próprio e esperado
filho Isaque, por obediência à Deus.
Por esse ato, ele deixou
claro que a sua fé não era apenas uma
crença de palavras, mas, sim, de compromisso!
A fé e as obras são
inseparáveis, a primeira produz a segunda e a segunda comprova a primeira. Quando
Abraão ofereceu Isaque em sacrifício, foi uma demonstração prática da sua fé. Contudo,
até que Abraão levantasse sua faca contra Isaque, em obediência, somente Deus
conhecia a sua justiça. Ao fazer isso, Abraão demonstrou fisicamente sua
confiança em Deus, tendo sido colocado em posição de comprovar a genuinidade de
sua fé.
Ele foi justificado pela
sua fé, mas foi chamado amigo de Deus pelas suas obras.
O segundo exemplo de
Tiago, é Raabe, uma meretriz cananéia , de Jericó. Quando ela ouviu que um
exército poderoso vinha sobre a cidade, e que não havia chances de vitória, ela
creu em Deus, creu que o deus dos hebreus era o Deus verdadeiro, e não pensou
nas consequências disso.
E comprovou essa fé quando
ajudou os espias, acolhendo-os, apesar dos riscos que correria.
Tiago encerra esse
assunto, dizendo que “Portanto, assim
como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem ações está morta.”
(2.26)
É assim que ele resume
todo o tema. Ele compara a fé ao corpo humano e, as obras, ao espírito, diz que
o corpo sem o espírito, está morto .
De modo semelhante, a fé
sem ações, também está morta! É ineficaz e imprestável! Não é uma fé verdadeira.
Muitos pensam que por
serem bons, ajudarem os outros, contribuírem para instituições assistenciais, auxiliarem
velhinhas a atravessarem a rua, dizerem a verdade, irem à igreja todo domingo, estão
salvos.
Porém, as palavras de
Jesus são claras: "Nem todo aquele
que me diz 'Senhor, Senhor' entrará no Reino dos Céus, mas aquele que pratica a
vontade de meu Pai que está nos céus" (Mt. 7, 21).
E aí, eu pergunto: será
que estamos praticando a vontade de Deus, como Abraão fez, por exemplo?
Estou disposto, como
Raabe, a trair o mundo inteiro , para ser leal a Cristo?
Tanto a fé como as obras
procedem de Deus. A fé é dom de Deus. Não geramos a fé, nós a recebemos Dele.
As obras que praticamos
são inspiradas pelo próprio Deus, pois é ele quem opera em nós tanto o querer
quanto o realizar.
Fé e obras caminham de
mãos dadas. Não estão em lados opostos, mas são parceiras. Ambas têm o mesmo
objetivo, glorificar a Deus pela salvação.
Somos salvos pela
fé e somos salvos para as obras.
Recebemos fé e fomos preparados
para as obras. Não há merecimento na fé nem nas obras. Ambas vem de Deus.
O homem deve glorificar a
Deus na terra através de suas obras, obras essas que partam do seu coração, que
foi preenchido de fé pelo próprio Deus!
Podendo fazer o bem ao
próximo, e não o fazendo, o homem peca contra Deus e não se justifica pela fé,
visto que sua é fé é morta ao não produzir os frutos esperados, afinal, ninguém
pode desprezar um irmão carente e continuar afirmando ser um seguidor de Cristo.
Aquele que
possui bens materiais e vê o seu irmão em necessidade, fechando-lhe o coração,
como pode habitar nele o amor de Cristo? Na 1 João 3:18, lemos: “Meus
filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade”.
Esta não é a fé salvadora. Tiago fala de alguém
que apenas afirma ter fé, mas nada faz para a demonstrar. Ele quebra o
mandamento de amar ao
próximo como a si mesmo.
Tiago nos
mostra que amor implica em prestação de serviço, auxílio, ação. Não adianta
dizer “que Deus o abençoe” e nada fazer para auxiliar, estando em nosso alcance
fazê-lo. Ajudar os necessitados não é algo para Deus fazer. É para os próprios
crentes fazerem!
Devemos
procurar falar menos e agir mais.
Fernando Marin
“A fé estéril não é a fé salvadora . A fé não é credal, mas é a operação do
Espírito de Deus, feita no homem interior , mediante o que começa a ser efetuada a transformação do crente segundo a
imagem de Cristo”
Russell Norman Champlin
A fé verdadeira é incapaz de se calar diante das injustiças sociais, é uma fé que transforma a palavra e a filosofia da religião em uma ação eficaz. Nas palavras de Jesus... tive sede, tive fome...parabéns irmão pelo texto.
ResponderExcluirRodryguez
ExcluirObrigado pelo seu comentário.
Com certeza, a fé leva ao amor, e esse, às obras.
Abraço.
" O amor nao e apenas um slogam mas uma ATITUDE" Excelente sermao, Parabens!!! Pr. Adilson Almeida
ResponderExcluirPr Adilson
ExcluirMuito obrigado pelo seu comentário, meu irmão.
Simplesmente, AME, não??
Abraço.
Que categoria meu irmão, renovo minhas esperanças em ver que existem pessoas que ainda pensam assim!
ResponderExcluirVejo nas Igrejas um descaso e um mal uso da PALAVRA.
Tenho e visualizo uma IGREJA que além de suas atribuições normais seja como uma COOPERATIVA,
Fazer um cadastro de cada membro e suas capacitações...
Não haveria nem um membro que precisasse de algo tivesse que buscar fora.
Assim, a casa organizada e forte poderia facilmente ajudar nossos FUTUROS IRMÃOS!
Evandro.
ExcluirUma excelente ideia ! Tentei implantar isso, uma vez, mas, não consegui.
Assim , todos conheceriam os talentos dos outros.
Obrigado!
Abraço.
Excelente o seu texto, Fernando (como sempre). Parabéns, gostei muito!!!
ResponderExcluirAustri
ExcluirSou eu quem agradece, afinal, você é o responsável por tudo isso, a partir do momento em que ofereceu o seu blog para que eu publicasse o que escrevo.
Muito obrigado pelo seu incentivo!
Abraço.
Excelente texto Fernando, isso prova que a fé não pode ser egoísta, mas distributiva!
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